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Boletim
Informativo da
Associação Espírita de Estudos Evangélicos Francisco de Paula Victor |
SOBRE AS CRIANÇAS ÍNDÍGO |
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A Associação Brasileira de Pedagogia Espírita ABPE está divulgando um excelente material, através de uma edição especial em homenagem aos 150 anos de O Livro dos Espíritos e ao jornal Mensagem, lançado por José Herculano Pires, em 1975. Trata-se do artigo: “Crianças Índigo Seita da Nova Era invade o movimento espírita”. Por tratar-se de um assunto polêmico, que tem ganhado espaço no seio do movimento espírita e devido ao bom senso que ressalta do referido documento, julgamos oportuno difundi-lo, pelo menos parcialmente, visando a um esclarecimento geral sobre o tema. Desde 2006, pesquisadores espíritas como Rita Foelker, Dora Incontri, Heloísa Pires, Paulo Henrique de Figueiredo, Franklin Santana Santos, entre outros, vêm alertando para as inúmeras contradições entre a Doutrina Espírita e o livro Crianças Índigo, um best-seller publicado nos Estados Unidos em 1999 e no Brasil em 2005. Os autores de Crianças Índigo são os norte-americanos Lee Carroll e Jan Tober, criadores de uma seita própria, o Grupo Iluminação Kryon, nome atribuído a uma entidade extraterrestre que, segundo a seita, “é o mais evoluído ser de luz a que a Terra jamais teve acesso” (em O Livro dos Espíritos, aprendemos que Jesus foi o ser mais puro que já apareceu na Terra). De acordo com o “extraterrestre”, desde 1987 estariam nascendo crianças com DNA alterado, que seriam as tão comentadas “crianças índigo”. Há também referências às crianças cristal. Todas elas, espíritos especiais, viriam para produzir uma verdadeira “transformação” no planeta. Todavia, de acordo com a Doutrina Espírita a moral é um atributo do Espírito e não do corpo. Nenhuma alteração do DNA transformaria moralmente indivíduo algum. As primeiras “comunicações” a respeito da missão dos índigos chegaram a princípio por um único médium, Lee Caroll, um trabalho isolado de um indivíduo que ganhou adeptos e publicidade. Somente isto já vai de encontro ao princípio da universalidade dos ensinos dos espíritos, critério que Kardec recomendou para se avaliar a veracidade do conteúdo de uma mensagem. As mensagens publicada no site da seita criada por Lee Carroll falam de um novo acontecimento programado, segundo ele, para ocorrer em 2012. Sobre questões como essa, Kardec dizia, em O Livro dos Médiuns: “Os bons espíritos nunca determinam datas (grifo nosso). A previsão de qualquer acontecimento para uma época determinada é indício de mistificação”. O termo índigo provém de uma sensitiva chamada Nancy Ann Tappe que, sem nenhum critério de cientificidade, baseou-se única e exclusivamente em sua “habilidade” em classificar as personalidades das pessoas segundo a cor das suas “auras”, que indicariam qualidades espirituais bastante diferenciadas das outras crianças. De acordo com ela, essas crianças apresentariam uma aura azul, com predominância da tonalidade índigo. Mas, consultando-se o PubMed, que é um serviço oferecido pela Biblioteca Nacional de Medicina do Congresso dos EUA e que inclui mais de 16 milhões de citações do MEDLINE e outros jornais de ciências da vida, não existe uma única referência, estudo ou pesquisa envolvendo estas crianças. O termo criança índigo não é reconhecido no campo da psicologia, nem na biologia ou da pediatria. Os poucos cientistas que fizeram uma análise superficial da questão advertem, na verdade, que crianças educadas como índigo tenderão a adotar comportamentos sociopáticos, tais como um senso de superioridade, alienação e uma identidade paranormal bizarra. Em poucas palavras, as afirmações no que se concerne às características biológicas das crianças índigo carecem completamente de investigação científica e devem ser tomadas como infundadas ou pseudocientíficas. Algumas das características das crianças índigo são alarmantes: “Nascem, sentem-se e agem com realeza. (...) Conseguem inverter as situações, manipulando ao invés de serem manipuladas, especialmente seus pais. (...) Não se relacionam bem com pessoa alguma que não seja igual a elas. (...) Alguns têm propensão ao vício, especialmente drogas durante a adolescência”. Os Espíritos da Codificação realmente anunciaram uma nova geração, conforme se lê no desfecho de A Gênese, mas nos seguintes termos: “Cabendo a eles fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por uma precoce inteligência e razão, juntas ao sentimento inato do bem (grifo nosso) e das crenças espiritualistas, constituindo um sinal indiscutível de um adiantamento anterior”. Os Espíritos falam de progresso moral e de uma geração com sentimento inato do bem. Isso pressupõe a habilidade de resolver conflitos, paciência, solidariedade e tolerância. Segundo o Espiritismo, “a fraternidade será a pedra angular da nova ordem social”. O argumento ganha mais força quando nos lembramos de que toda a doutrina do Cristo, modelo máximo de evolução moral para o nosso planeta, era voltada ao cultivo de habilidades intrapessoais e interpessoais: aprender a amar a si mesmo, amar o próximo, perdoar, ser humilde e compreensivo, oferecer ao ofensor a outra face. O desequilíbrio emocional em muitas dessas crianças mostra o quanto elas ainda têm de caminhar para atingir um alto grau de evolução como Espíritos aliás, tanto quanto cada um de nós. O endeusamento dos médiuns no tempo e no espaço e, sobretudo nas casas espíritas, é fruto de um desejo de milagres, da intervenção espetacular do mundo espiritual para “resolver” nossos problemas. Uma varinha mágica transformaria nosso sofrido planeta em um mundo de paz. A guerra e o sofrimento desapareceriam, não devido ao nosso amadurecimento e trabalho, mas por processos misteriosos. Políticos corruptos, profissionais incompetentes, egoísmo e orgulho, seriam varridos da Terra simplesmente com o trabalho de um punhado de crianças e adolescentes especiais. Há, ainda, algumas questões muito graves do ponto de vista pedagógico: em primeiro lugar, é a concepção elitista, eugenista, de classificar os seres humanos, que fere o princípio da igualdade entre todos. Filhos geneticamente modificados seriam superiores (fisicamente) aos pais e, em toda a literatura índigo, a interferência educacional da família parece um estorvo na vida das realezas índigo! O segundo ponto que parece particularmente problemático é justamente a recomendação de uma certa renúncia à função educativa dos pais e responsáveis, já que as tais crianças índigo já vêm prontas. Ora, sabemos que todos os Espíritos que reencarnam na Terra, mesmo os mais evoluídos (que não é o caso desse modelo apresentado por Lee Carrol, Jan Tober e Nancy Ann Tappe), precisam de um bom processo educativo. Já se imaginou o tamanho da vaidade, da prepotência e do orgulho que esse absurdo educacional vai provocar nessas mentes que estão chegando? Dizer a uma criança que é preciso aceitar “que é um ser diferente dos outros” cria de imediato um abismo nas relações humanas e um soberano desprezo pelo resto da humanidade. A proposta pode criar monstrinhos que se julguem acima do bem e do mal e que não tenham a mínima noção de convivência igualitária com o próximo. É um delírio pedagógico que, se aplicado, tenderá a deformar as personalidades do futuro. Enfim, enquanto não aprendermos a debater sem melindres, a discutir idéias sem paixões pessoais, a criticar construtivamente e a exercitar o livre-exame, não teremos um movimento espírita esclarecido e progressista, que não engula mistificações tão grosseiras como essa das crianças índigo. Obviamente que só é possível criticar construtivamente a partir de um conhecimento aprofundado das questões. Para isso, é preciso estudar Kardec e procurar sempre ampliar o horizonte cultural. E lembrar, como bem enfatizou Heloísa Pires: “(...) que o futuro será de luzes, não por milagre, nem pela presença de grupos azuis ou amarelos ou vermelhos, mas pela educação exercida através do esclarecimento da Doutrina Espírita, na conscientização de que todos somos especiais, criados da mesma forma por Deus, necessitando do esforço próprio e da educação que dilata a capacidade de amar, a humildade e extingue o orgulho e o egoísmo”. ------------------------------------------------------------------------------------------------------- Fonte: CRIANÇAS ÍNDIGO. Disponível em: <http://www.pedagogiaespirita.org.br/texto/mensagem.pdf>. Acesso em: 22/04/2007 |
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