Boletim Informativo da
Associação Espírita de Estudos Evangélicos
Francisco de Paula Victor
 
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O Flagelo das Obsessões

             Peregrinos do carreiro das reencarnações, buscando a iluminação e a paz, temos mergulhado no corpo e dele saído, graças à abnegação dos generosos Guias que se responsabilizam pelas nossas tentativas evolutivas. Desse modo, a Terra continua sendo para nós o colo de mãe generosa, que nem todos temos sabido preservar em elevado conceito.

            O egoísmo, porém, esse algoz implacável de cada um de nós, tem sido o adversário declarado do nosso processo de desenvolvimento espiritual. Por conseqüência, tornamo-nos hipersensíveis em relação à conduta pessoal, disputando créditos que não possuímos em detrimento das demais criaturas nossas irmãs.             Esse comportamento doentio tem-nos gerado antipatias que poderiam ser evitadas, atritos que não se encontravam programados, preconceitos que somente nos têm retido na retaguarda.

            É mediante esse agir e arrepender-se que surgem as vinculações dolorosas, exigindo reparações igualmente aflitivas. Isso porque raramente o erro é individual. Quase sempre acontece envolvendo outras pessoas com as quais se convive ou junto a quem se estabelecem programas de afetividade, de interesses comuns ou de lutas necessárias. E toda vez que alguém defrauda a confiança, ou burla o respeito e a dignidade de outrem, estabelecem-se vínculos perturbadores entre o agente e a sua vítima que, destituída de elevação moral, ao invés de esquecer e perdoar, atormenta-se na vingança, desejando cobrar os males de que se crê objeto. Não estando preparados para entender que o mecanismo do progresso exige disciplina e testemunho, os temperamentos arbitrários rebelam-se e se propõem fazer justiça com as próprias mãos.

            Ninguém, porém, pode ser juiz honesto em causa própria, por impossibilidade de harmonizar ou de eliminar as emoções que ditam comportamentos quase sempre egoísticos e perturbadores. Assim, as malhas da rede obsessiva se vão estabelecendo, vinculando negativamente uns indivíduos aos outros.

 Aspectos da instalação da obsessão

             Informam-nos os Espíritos1 que, iniciando-se de forma sutil e perversa, em muitos casos a obsessão instala-se nos painéis mentais através dos delicados tecidos energéticos do perispírito, intermediário entre o Espírito e o corpo, até alcançar as estruturas neurais, perturbando as sinapses, as relações anatômicas entre as células nervosas, e a harmonia do conjunto do cérebro. Ato contínuo, a composição química destes neurônios se desarmoniza, face à produção desequilibrada de enzimas que irão sobrecarregar o sistema nervoso central, dando lugar aos distúrbios da razão e do sentimento. Noutras vezes, a incidência da energia mental do obsessor sobre o paciente invigilante irá alcançar, mediante o sistema nervoso central, alguns órgãos físicos que sofrerão desajustes e perturbações, registrando distonias correspondentes e comportamentos alterados. Estabelecidas as fixações mentais, o hóspede desencarnado lentamente assume o comando das funções da mente do seu hospedeiro encarnado, passando a manipulá-lo. Isso, porém, ocorre em razão da aceitação parasitária que experimenta o enfermo, que poderia mudar de comportamento para melhor, dessa forma conseguindo anular ou destruir as induções negativas de que se torna vítima. No entanto, afeiçoado à acomodação mental, aos hábitos irregulares, compraz-se no desequilíbrio, perdendo o comando e a direção de si mesmo.

            Quando das suas graves intervenções no psiquismo de seus hospedeiros, as energias deletérias dos espíritos afeiçoados à vingança provocam alterações nas taxas de serotonina e noradrenalina, produzidas pelos neurônios, às quais estão ligadas doenças como depressão, insônia, variação da pressão sangüínea, que contribuem, inclusive, para o surgimento de transtorno psicótico-maníaco-depressivo, responsável pela diminuição do humor e desvitalização do paciente, que fica ainda mais à mercê do agressor. É nessa fase que, muitas vezes, se dá a indução ao suicídio, através da hipnose contínua, transformando-se em verdadeiro assassínio, sem que o enfermo se dê conta da situação perigosa em que se encontra. Sentindo-se vazio de objetivos existenciais, a morte se lhe apresenta como solução para o mal estar que experimenta, não percebendo a captação cruel da idéia autocida que se lhe fixa na mente. Não poucas vezes, quando incorre no crime infame da destruição do próprio corpo, foi vitimado pela força da poderosa mentalização do adversário desencarnado. Certamente, há para o desditoso atenuantes, em razão do processo malsão em que se deixou encarcerar, não obstante as divinas inspirações que não cessam de ser direcionadas para as criaturas para o respeito pela vida e sua conseqüente dignificação.

            Neste aspecto, merece ênfase a advertência, sempre válida, segundo a qual é “praticando o bem e pondo em Deus toda a confiança”2 que previne-se das influências negativas da erraticidade inferior. Afinal, já estamos informados que os Bons Espíritos assistem as pessoas que os secundam pelos esforços que fazem para se melhorarem,3 abandonando a auto-compaixão, a rebeldia sistemática, a acomodação mental etc.

            Na raiz de inumeráveis males que afetam a coletividade humana, encontramos, portanto, o intercâmbio espiritual manifestando-se com segurança. As obsessões campeiam desordenadamente. Isto não implica em dar margem ao pensamento de que as criaturas terrestres se encontram à mercê das forças desagregadoras da erraticidade inferior. Em toda parte está presente a misericórdia de Deus convidando ao bem, ao amor, à alegria de viver. A opção inditosa, no entanto, de grande número de criaturas é diversa dessa oferta, o que facilita a assimilação de idéias tenebrosas que lhe são dirigidas. Assim mesmo, ante a preferência das terríveis alucinações, o amor paira soberano aguardando, e quando não é captado, a dor traz de volta o calceta, encaminhando-o para o reto proceder mediante o oportuno despertar.

            Assim é que chega um dia, porém, em que cada um desses adversários espirituais, terminadas as batalhas em que se empenham, passam a experimentar incomum frustração por haverem perdido as metas que desapareceram e por darem-se conta dos tormentos íntimos em que naufragam, descobrindo-se sem objetivo nem razão de continuar a viver... E como não podem fugir da vida em que se encontram, são atraídos compulsoriamente às reencarnações dolorosas, experimentando os efeitos das hecatombes que ajudaram a criar. Mergulham, então, na grande noite terrestre do abandono, da loucura, das anomalias, emparedados em enfermidades reparadoras, experimentando rudes expiações, que lhes serão a abençoada oportunidade para reencontrar o caminho do futuro.

Somente, portanto, através do perdão e da reconciliação, da reparação e da edificação do bem incessante, é que o flagelo das obsessões desaparecerá da Terra de hoje e de amanhã, pelo que todos nos devemos empenhar desde este momento.

            O amor é o bem eterno que sobrepaira em todas as situações, mesmo nas mais calamitosas, apontando rumos e abrindo espaços para a realização da felicidade total. Vivê-lo em clima de abundância é o dever a que nos devemos propor, inundando-nos com a sua sublime energia que dimana de Deus.

 

  1. Tormentos da Obsessão (Divaldo P. Franco - pelo espírito Manoel Philomeno de Miranda);
  2. O Livro dos Espíritos (Allan Kardec) – questão 469.
  3. O Livro dos Médiuns (Allan Kardec) – item 252, 2ª parte.

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